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DRAG BLOC - 2014

 

A 21 de Junho de 2014, a propósito da Marcha do Orgulho LGBT desse ano, a Lóbula organizou uma DRAG BLOC - um ponto de encontro para expressões de género não-normativas - para contrapôr a crescente normalização e institucionalização do movimento LGBT e do momento da marcha em particular, procurando dar espaço livre a outras versões do corpo e do desejo.

 

Acompanha a nossa página de Facebook para saberes de edições futuras desta intervenção.

 

Texto de apresentação:

 

Participamos orgulhosamente na marcha LGBT de Lisboa deste ano. 

 

Mas mesmo nos espaços chamados LGBT vemos a criação e o surgimento de determinadas normas corporais e de género. Abdominais definidos, peitorais com mamilos arrebitados, corpo branco (bronzeado, de preferência, dada a altura do ano)... gay, sim, mas não bicha; assim se quer o homossexual. Cintura elegante, pernas depiladas, cabelo Pantene, feminina... gay, sim, mas não camiona; assim se quer a lésbica. E ambos monogâmicos e de classe média. Foram muitos os espaços LGBT em que se passou a marcar a liberdade de desejar o mesmo género. Mas não se desconstruiu, não se pôs em causa, o que é o próprio género. O que é ser "homem" e o que é ser "mulher".

 

Também por isso é sistemático o apagamento das pessoas trans* e não-normativas nestes espaços, inclusivé na própria marcha. Transgéneros, camionas, travestis, promíscuas, bichas, transexuais... qualquer identidade não-binária, ou seja, qualquer pessoa que não se enquadre nas duas categorias solidificadas pela separação dicotómica entre "homem" e "mulher", vê-se abafada pelas mesmas vozes que reclamam o direito à diferença. Uma violência que vai da negligência forçada, à visão das travestis presentes na marcha como o freak show que lhe dá "má imagem".

 

Inseparável desta criação de normas, e uma consequência da sociedade mercantil, é a forma como os espaços LGBT se tornam cada vez mais fontes de lucro, os locais-chave do "pink market" e em relação inversa cada vez menos politizados, cada vez menos críticos. Onde devia haver possibilidades de resistência, vemos apenas opções de consumo, obliterando-se as raízes da marcha do orgulho na resistência radical dos motins de Stonewall em 1969.

 

É por isso que organizamos este ano - na continuação de acções de anos anteriores - o DRAG BLOC. Um espaço, um encontro, em que nos propomos a experimentar colectivamente com os nossos próprios géneros e com os nossos próprios corpos, para lá da norma vigente. Maquilhagem, roupa, comportamento: maneiras de explorar as partes de nós que foram caladas, de germinar as que não tiveram espaço para crescer, de inventar as que nunca nos passaram pela cabeça sequer...

 

Convidamos-te a juntares-te. Traz roupas para usar e para emprestar (se puderes) e uma amiga também. Se ninguém nasce mulher ou homem, se se faz mulher ou homem... então queremos brincar ao desfazê-lo.

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